quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

o melhor cansaço é o do amor

e mesmo sem saber que andava por ali, seus pés caminhavam nas pegadas do outro. e o cheiro que quase sumia surgiu de dentro do armário. e agora já eram dois garfos e duas facas e dois pratos. e a hora da chegada pra um abrir a porta quando a campainha tocasse. e o beijo da memória se refez e multiplicou no boa noite, no meio da noite, na manhã, de manhã, no metro, no mau humor, no sabor, no calor do aquecedor...

sábado, 11 de setembro de 2010

menina alva

eu vim pra te dizer que quero

menina, eu vim

pra te fazer querer


menina dos seus trinta e poucos

é mais mulher que essa menina

alva que parece ser


mulher menina

dos seus vinte e muitos

ela veio pra te fazer crescer


meninas foram pra se conhecer

mulheres vieram pra se fazer amar

alvas pra se dizer te amo

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sente só

Arranca a cabeça

mas dê razão ao coração.

Mar


Eu naveguei por tantos mares
mas nem de puro ouro
branco ou amarelo
qualquer coisa parecida
por onde mergulhei

Achei um de prata
que não por completo me agrada
Mas era quase do tamanho
da minha infinita amada

Mas enquanto isso
Enquanto não chego pra ficar
A gente fica assim:

Já que o mar não tem fim
E, desde a Pangeia
muito bichinhos nasceram de lá
Saiba que dentro do seu aquário
Fez-se um peixe chamado Andréa

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

caminho para santiago à claricidade

e vendo o sol nascer
na sua fronte doce
sentir o dia correr
nas curvas do seu corpo
a tarde escorrendo
nas pontas dos seus dedos
sem a lua cris
que vem à noite

o despertar dos olhos
com a luz do dia
dia
que anda no compasso tempo
tempo
de passos largos pra alcançar mais rápido
mas
quieto enganando as horas
apontadas
nos ponteiros ligeiros
molhados
esgarçados silenciosos
quentes
fortes densos
úmidos
frouxos latentes vibrantes circulares negros fundo-raso dentro

terça-feira, 31 de agosto de 2010

tenho agora aqueles suspiros que não têm letra nem frase, mas dizem tudo... eles dizem sem palavras porque elas não existem pra descrever o que vêm de dentro, é aquela coisa que não tem nome, que toma a gente e só nos resta deixar sair como o coração saltando pela boca.

terça-feira, 17 de agosto de 2010




um botão em flor pra fechar meu paletó

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

não existe coisa mais triste que ter paz.

faz sinal, conta as moedas. e gira na roleta.

vai pro outro lado.

não liga

o telefone tocava. impaciente levantou-se pra atender. desligaram.
o telofone tocava insistentemente. mas estava na cozinha e quando chegou para atendê-lo parou de tocar.
o telefone tocava num volume tão baixinho qua mal conseguia ouvir. ela o levava sempre por perto pra não perder ligações. mas no 'alô' também não ouvia nada.
ela tinha um telefone, mas ele não tocava. ela não corria. ela permanecia num cômodo qualquer. ela não atendia.
ela não tinha telefone, e continuava a esperar por alguém.

sábado, 14 de agosto de 2010

casas amarelas são sempre sonhos de alguéns
sempre alguém sonha em ter uma casa amarela
de campo, de praia, de serra, de lar

de ter um gato na janela
de ter uma janela, ao menos
ao menos de ter uma casa amarela

de ter um gato na janela da casa amarela
de ver o tempo amarelar pela janela

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

volta pra casa

como de hábito dormia no sofá. e um dia acordou depois de 5 horas mal dormidas causadas por um travesseiro atravessado no pescoço. foi tão desconfortante que em poucos segundos já estava na cama pra dormir de novo. entre os sonos lembrou-se do sonho que acabara de ter e viu que o motivo do seu breve despertar foi um pesadelo, o que viveu nos últimos meses. é porque ela é bem dramática e o que se torna corriqueiro na vida dos outros pra ela é como se fosse o fim do mundo. muito provavelmente estaria chorando ao escrever esse texto pelo simples fato de ter que se desapegar de coisas que foram dela um dia. só por isso.
mas dramas à parte, voltou a dormir e depois de muitos outros sonhos acordou com o que restava do dia.
tudo que é da sua vida original continuava intacto. a luz do sol que teimava se esconder entre as nuvens refletia no muro branco do quintal da sua casa e a obrigou vestir seus óculos escuros pra ver os outros cômodos e procurar seus parentes desejando 'boa tarde!' o mesmo cenário fixo há 27 anos, os corpos já apresentavam marcas que esse tempo imprimiu dentro da mesma casa. antes eram velotróis no quintal, bonecas no chão da sala, discos infantis e um quarto com duas camas e móveis brancos, tomadas protegidas e uma imensa movimentação acerca de duas micro pessoas. hoje, são cds, dvds, livros de todos os tamanhos e assuntos restringidos à literatura, jornalismo, peças de tearo, crítica, catálogo de exposições, et cetera. afinal, as micro pessoas são adultos e já é delas o papel de tomar conta de quase tudo que eram privadas de saber na infância.
inclusive de suas próprias vidas.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

e se o tempo não passasse


ter todos os dias
sabendo contá-los
sem segurá-los
mas ter-te junto

ver só um pedaço
recortado num retrato
um momento em movimento
parando em quadros
parado no quarto

9 meses

uma quase vida
no escuro molhado
quente confortante

no impulso da vida
é jogado pra fora
em plena luz do dia

a rua de ar
no árido iluminado
no clima que desperta
acende ascende ascendente

dos pequenos
incontroláveis
membros e pêlos
movimentos e caimentos
tranças e arranhões
penteados e comunhão

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Blue


Miles Davis atravessando a ponte num final de tarde fria e chuvosa. As luzes se acendendo enquanto a noite cai e a foto tremida de alguém amando à distância vendo a paisagem passar. Amando o intocável sentido um dia. Dois dias levados em cada adormecer e despertados com a sensação que faltou tempo, esse mesmo que se arrasta preguiçoso mas se quer acelerado... como nas notas de um piano tocando você, no pensamento que só enxerga você, na boca que te pronuncia. Me visto de desejo e vou até você atraída por essas notas e esse silêncio que tambem é música.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ahan

ela sabe fazer seu jeito de ser pra me conquistar / ela sabe que já mais de metade de mim está mais que pra lá / ela traz pra cá como eu quero ser só pra lá-rá lá-rá /ela só quer ouvir que os desejos de mim são dela sem fim / e que as flores roubadas chamadas clarice voltaram pra ela numa que rosa chamada andrea / e me olhando assim faz o mundo girar e meu coração parar num só lugar que está longe no ar e dentro do olhos de mar / é já é tão difícil querer tanto então pra quê entender? / e agora não dá mais pra esperar eu quero te ter e só, pura, louca, doida, alucinada, corporalmente te amar.

minha ilha

sair por aí com a sensação de bem estar constante
de cantar os sons que não sabe
de prever o segundo seguinte do jeito que preferir
de falar aos outros o que se passa
não se julgar por sentir
sentir, só isso é o bastante

escrever sem ler
aprender a ver sem precisar tocar
falar por querer dizer
respirar por ver o mundo se abrindo
se abrir pro caminho que construiu pra você

Outono


era frio no rio de janeiro e, numa noite comum, quando os bares estão cheios e as pessoas danam a falar sobre suas semanas e das amenidades mais unúteis ao seus ouvidos, vestem roupas exageradas pro frio carioca, preferem cerveja a vinho, porque somos de praia, se aconchegam uns nos outros, desconhecidos ou não e flertam insaciavelmente os seus pares. homens-mulheres, mulheres e homens e tudo junto misturado nos lugares comuns de quase todas pessoas comuns.

e tá calor em nova york, em chigado, na parte de cima dos trópicos. os ares condicionados ligados pra não suar, tentando abafar o barulho da rua enquanto trabalham e consomem o ar de dentro e de fora. mas o céu, o daqui do rio, mesmo de junho, estava azul, com nuvens brancas e o de lá, pensava ela, também estava. e de fato, estava.


é porque é sempre o mesmo céu quando se olha pra cima e se imagina o que tem depois dele, se é que tem alguma coisa que possamos desvendar.


uma mesa de pessoas raras pôde ser achada nessa muvuca num lugar mais que comum. os pedidos, dos mais variados, juntavam as 4 estações: caipirinha, cerveja, suco, água, salada de folhas e sorvete com frutas. tudo pra se fazer festejar o reencontro de amigos distantes pelo tempo e o encontro de quem se esquentaria no frio e ventaria no sol.

e os meses de março e setembro se juntaram na primavera de um vestido florido pra trazer o sol numa noite de inverno. foi ali que se fez o toque e os olhares de duas temperaturas que desdiziam a contradição das estações e a verdade que aquela noite não acabaria por ali.


pra quem sabe que o tempo foi dividido nas fatias de drummond ou em quatro nas estações ou contado em dias também sabe que o tempo é relativo, que pode se ter inverno sem frio, verão sem chuva, primavera sem cor e outono sem flor e que até o ano varia quando é bissexto.



pra quem sabe que ser é estar em qualquer lugar comum deve saber também que o amor não é, absolutamente, sazonal.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

cuidado mocinha, que aí está por vir uma tempestade. presta atenção naquela nuvem. pode ter uma forma delicada, mas já percebeu que todos fazem bichinhos de pelúcia dos animais mais perigosos e traiçoeiros?

primeira

queria escrever em versos
te beber em pequenos goles
te ingerir em longas tragadas
do meu último cigarro

não fazer uma rima pobre
contar os pingos da chuva
me satisfazer com meias palavras
e até viver no silêncio

dissertar sobre o abstrato
acertar no imprevisto
e optar por não ter escolha

vislumbrar o invisível
achar a sua mão
saber que estou imersa no que não percebo

sábado, 8 de maio de 2010

esse é pra joanne

e ouvi um assovio no meio da madrugada... não sei de onde veio a melodia suave mas assim que atravessou minha janela pude perceber que tocava em mim com uma brisa fresca pela chuva que caía de leve e o vento que balançava as árvores. não resistindo ao chamado fui até à janela e nada vi... mesmo assim respondi com outras notas que me foram respondidas por mais algumas... nunca as tinha ouvido, mas me pareceram familiar.
logo em seguida, uma mensagem dizendo: ai, vc tinha que estar aqui! esse aqui é do outro lado, onde muito dificilmente eu estaria em poucos minutos. mas mais que a alegria de receber foi o que me permiti responder: nem me fale. saudades disso tudo! estou de volta pra vida. vc pode me esperar pra me fazer companhia?
e a chuva começava mais forte e parava de repente como um aviso que limpava o ar pra seguir em frente.
mas choveu de novo, e daí não consiguia ouvir o assovio. quando ela passar pode ser que ele não esteja mais cantando.
ele parou junto com a chuva forte e só se ouvia naquele momento os pingos no chão e das folhas sendo molhadas.
e chuva parou de vez. e ficou o silêncio das horas. que passavam. e o silêncio de mim que esperava algum ruído pra chamar a atenção.
mas fiquei com o barulho do meu silêncio que me preenchia aos poucos. e aí veio a frase: Azul que é pura memória de algum lugar.
é porque mesmo o silêncio é feito de barulhos e ruídos e música e tudo mais que tenha gosto, cheiro, textura, cor e qualquer coisa que te traga a lembrança da memória de algum dia.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

lia

disseram pra Lia que ela mais parecia um fruto numa foto em que aparecia no meio das folhas.
depois desdenharam-na remedando quando falava sobre seus sentimentos numa conversa de amor.
foi perguntada se as pessoas que se envolvia eram malucas ou se ela mesma, a resposta foi 'a maluca sou eu que compro a vida dos outros'

no dia em que se conheceu, não sabia que aconteceria. olhou nos olhos de um outro alguém e viu tanta coisa lá no fundo que sem perceber que se dizia, prometia a si mesma aquela pessoa. eram olhos molhados, pintados, cantados e com a sensação de não achar nada. nada nada nada, nada nem além de onde não podia mais ver. essa chuva, essa cor, essa música e esse infinito ficaram em Lia até o dia em que pode ver de perto como era entrar nos que a enxergavam. eram duas entradas como o mar profundo, com cores misturadas definidas por bordas seguras pelos percalços até ali e com acordes estampados por aquele momento em que surgia alguma coisa além do nada imposto até o encontro com seus olhos.

é que os olhos de Lia estavam cheios das palavras que se disse e prontos pra provar a verdade vista no outro dia. e era bem verdade tudo que tinha visto, mesmo de longe. e era verdade as palavras ditas por ela. assim, como era verdade que ela parecia um fruto que amadurece com o tempo e que muitas das vezes suas demonstrações são descabidas em certos momentos e que sua loucura é tanta que mergulha no mar sem fim.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

'terror de te amar num sítio tão frágil
como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeição
onde tudo nos quebra e emudece
onde tudo nos mente e nos separa'

mas a cada dia que consome as horas, ainda, e, na crescente vontade de te querer esse mundo só se torna cúmplice do amor. a impossibilidade se transforma na conjugação improvável da fragilidade e solidez da tensão entre as duas.
faz tempo que te conheço, parece. mas a intimidade nega a desconhecimento.

'direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida.
Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.'