segunda-feira, 26 de julho de 2010

e se o tempo não passasse


ter todos os dias
sabendo contá-los
sem segurá-los
mas ter-te junto

ver só um pedaço
recortado num retrato
um momento em movimento
parando em quadros
parado no quarto

9 meses

uma quase vida
no escuro molhado
quente confortante

no impulso da vida
é jogado pra fora
em plena luz do dia

a rua de ar
no árido iluminado
no clima que desperta
acende ascende ascendente

dos pequenos
incontroláveis
membros e pêlos
movimentos e caimentos
tranças e arranhões
penteados e comunhão

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Blue


Miles Davis atravessando a ponte num final de tarde fria e chuvosa. As luzes se acendendo enquanto a noite cai e a foto tremida de alguém amando à distância vendo a paisagem passar. Amando o intocável sentido um dia. Dois dias levados em cada adormecer e despertados com a sensação que faltou tempo, esse mesmo que se arrasta preguiçoso mas se quer acelerado... como nas notas de um piano tocando você, no pensamento que só enxerga você, na boca que te pronuncia. Me visto de desejo e vou até você atraída por essas notas e esse silêncio que tambem é música.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ahan

ela sabe fazer seu jeito de ser pra me conquistar / ela sabe que já mais de metade de mim está mais que pra lá / ela traz pra cá como eu quero ser só pra lá-rá lá-rá /ela só quer ouvir que os desejos de mim são dela sem fim / e que as flores roubadas chamadas clarice voltaram pra ela numa que rosa chamada andrea / e me olhando assim faz o mundo girar e meu coração parar num só lugar que está longe no ar e dentro do olhos de mar / é já é tão difícil querer tanto então pra quê entender? / e agora não dá mais pra esperar eu quero te ter e só, pura, louca, doida, alucinada, corporalmente te amar.

minha ilha

sair por aí com a sensação de bem estar constante
de cantar os sons que não sabe
de prever o segundo seguinte do jeito que preferir
de falar aos outros o que se passa
não se julgar por sentir
sentir, só isso é o bastante

escrever sem ler
aprender a ver sem precisar tocar
falar por querer dizer
respirar por ver o mundo se abrindo
se abrir pro caminho que construiu pra você

Outono


era frio no rio de janeiro e, numa noite comum, quando os bares estão cheios e as pessoas danam a falar sobre suas semanas e das amenidades mais unúteis ao seus ouvidos, vestem roupas exageradas pro frio carioca, preferem cerveja a vinho, porque somos de praia, se aconchegam uns nos outros, desconhecidos ou não e flertam insaciavelmente os seus pares. homens-mulheres, mulheres e homens e tudo junto misturado nos lugares comuns de quase todas pessoas comuns.

e tá calor em nova york, em chigado, na parte de cima dos trópicos. os ares condicionados ligados pra não suar, tentando abafar o barulho da rua enquanto trabalham e consomem o ar de dentro e de fora. mas o céu, o daqui do rio, mesmo de junho, estava azul, com nuvens brancas e o de lá, pensava ela, também estava. e de fato, estava.


é porque é sempre o mesmo céu quando se olha pra cima e se imagina o que tem depois dele, se é que tem alguma coisa que possamos desvendar.


uma mesa de pessoas raras pôde ser achada nessa muvuca num lugar mais que comum. os pedidos, dos mais variados, juntavam as 4 estações: caipirinha, cerveja, suco, água, salada de folhas e sorvete com frutas. tudo pra se fazer festejar o reencontro de amigos distantes pelo tempo e o encontro de quem se esquentaria no frio e ventaria no sol.

e os meses de março e setembro se juntaram na primavera de um vestido florido pra trazer o sol numa noite de inverno. foi ali que se fez o toque e os olhares de duas temperaturas que desdiziam a contradição das estações e a verdade que aquela noite não acabaria por ali.


pra quem sabe que o tempo foi dividido nas fatias de drummond ou em quatro nas estações ou contado em dias também sabe que o tempo é relativo, que pode se ter inverno sem frio, verão sem chuva, primavera sem cor e outono sem flor e que até o ano varia quando é bissexto.



pra quem sabe que ser é estar em qualquer lugar comum deve saber também que o amor não é, absolutamente, sazonal.